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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O fenômeno Xing Ling


Do iPhone ao pen drive, a China copia tudo e domina a fabricação de gadgets do mundo.

Segunda-feira, dez e quinze da noite. Enquanto espera um amigo, você saca a antena de TV do seuiPhone de 16 GB para ver o programa CQC. O amigo chega, mas você não precisa perder a piada no meio. É só acionar a função de gravação do smartphone e assistir depois. Ops, tem algo estranho nesse iPhone que grava vídeos e exibe TV aberta.

Bem-vindo à era do shanzhai. A cópia chinesa, o HiPhone, tem recursos que ainda são uma miragem no original da Apple — pela pechincha de 250 reais. A interface tosca, a tela multitoque xing ling e os 16 GB que na verdade são apenas 1 GB logo entregam a imitação. “Tudo na China é falsificado e essa duplicação de produtos não é apenas um incidente. É algo profundamente ligado à cultura do país.”

Com esse argumento, um artigo produzido dentro da Universidade de Pequim pelo acadêmico Wang Hongzhe (no melhor estilo xing ling, ele assinou com o pseudônimo de Steven Zuckerberg, um professor americano), acirrou a discussão.

Como o país que produz quase todo o hardware dos aparelhos mais badalados do mundo, entre eles o próprio iPhone, pode ser também o cérebro por trás do HiPhone e companhia ilimitada? A resposta é dada em chinês: shanzhai. O termo, que literalmente significa fortaleza na montanha, serve de grife para as precárias fabriquetas espalhadas pelo delta do Rio das Pérolas, no sudeste da China. Elas produzem em grande escala todo tipo de produtos, quase sempre com preços baixíssimos e controle de qualidade nulo.

O domínio da China na fabricação de eletrônicos, fake ou não, tem entre uma das suas origens os próprios investimentos públicos. O governo injeta mais de um trilhão de dólares por ano em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de telecomunicações, computação e eletrônicos, de acordo com relatório da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

Não é por acaso que as maiores marcas do mundo tenham concentrado suas fábricas na Ásia. E menos ainda que os produtos mais brilhantes dessas multinacionais tenham ganhado versões clonadas lá mesmo. Segundo o Gartner, modelos de marcas como HiPhone, Sumsung e Nckia respondem por quase 40% do mercado chinês.

O país consome 183 milhões de aparelhos por ano e fabrica três quartos da produção mundial de celulares. Andam especulando que a Apple vai anunciar uma versão míni do iPhone? Pois a indústria do shanzhai já começa a produzir milhões de unidades de um aparelho com metade do tamanho (e o dobro de funções) do smartphone original.

Em poucas semanas, ele é vendido em Manila, nas Filipinas; em Ciudad del Este, no Paraguai; e em Feira de Santana, na Bahia. Aqui ou na China, é grande a tentação de comprar um smartphone por menos de 300 reais, mesmo sabendo que ele pode parar de funcionar poucos dias depois. O mesmo raciocínio vale para navegadores GPS, MP3 players (ou 4, ou 5 ou... 10) e outros aparelhos que no quesito preço dificilmente encontram rivais à altura nos catálogos dos grandes fabricantes.

Um dos exemplos mais gritantes são os MP10 xing ling que tomaram conta do comércio popular brasileiro. Até na Americanas.com, o maior nome do e-commerce brasileiro, os players de marcas desconhecidas ocupam cativamente as posições dos produtos mais vendidos em categorias como MP4 e MP5.

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